Artigo escrito por Henrique Salmazo, doutor em Neurociência e Cognição e professor do Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da UCB.
O Dia dos Avós, comemorado no Brasil no dia 26/07, é uma homenagem aos avós de Jesus e representa a celebração da convivência entre as gerações. Na ausência dos pais, os avós constituem os principais agentes socializadores dos netos. A vivência do papel social dos avós já foi retratada por Rachel de Queiróz na poesia “A Arte de ser avó”. A poetisa confidencia descobertas e realizações ao viver esse papel, recheadas por sentimentos de satisfação pessoal, cuidado, liberdade e amor. Esses são os sentimentos vivenciados por muitos avós e netos, embora existam variações e heterogeneidades que são estudadas pela Gerontologia.
No Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília os estudos e pesquisas sobre o tema versam sobre as relações entre avós e netos, programas educacionais envolvendo pessoas idosas e adolescentes, e pesquisas sobre o perfil do jovem cuidador de pessoas idosas.
Além das dissertações de mestrado já defendidas, essas pesquisas resultaram na adaptação transcultural de instrumentos para avaliar os jovens cuidadores, em projeto liderado pela Profa Dra. Alessandra Oliveira e Prof. Dr. Vicente Paulo Alves; na produção da Coleção Vovó Sabe Tudo liderada pela Profa. Dra. Maria Liz Cunha de Oliveira, cujo objetivo é falar sobre temáticas de saúde para públicos infanto-juvenis como a Asma, Hepatite e Quedas; e na publicação de um livro intitulado “Gerontologia Educacional e Meio Ambiente: resultados de uma intervenção educativa intergeracional” de minha autoria, juntamente com a Profa. Dra. Maria Liz e a psicóloga e egressa do mestrado, Fabiane Moreira.
O último livro encontra-se disponível para download e sintetiza as experiências de uma intervenção em que as pessoas idosas foram multiplicadoras de educação ambiental para estudantes adolescentes de uma Escola Pública do Gama, Brasília/DF. A pesquisa contou com o financiamento da FAP-DF e também foi publicada no periódico Educational Gerontology. Foram observadas atitudes mais positivas sobre a velhice em adolescentes que participaram das intervenções, o que leva a crer que investir em programas intergeracionais nas escolas é uma medida que pode prevenir o idadismo, o preconceito associado a idade, e em consequência, reduzir os crescentes casos de violência contra a pessoa idosa no Brasil.
Isso porque programas como o Disque 100 têm recebido com mais frequência denúncias de violência psicológica e verbal proferida por pessoas em quem a pessoa idosa deposita confiança, inclusive os netos. Intervir nessa condição requer políticas educacionais e programas de educação gerontológica, isto é, dedicados a fomentar a educação para o processo de envelhecimento. Vale destacar que são previstos nos artigos 22 a 25 do Estatuto da Pessoa Idosa a inclusão de conteúdos sobre envelhecimento na educação básica, no ensino superior e em campanhas publicitárias.
Dessa forma, o Dia dos Avós, além de uma homenagem, é um convite à sociedade para valorização das pessoas idosas, o que inclui o respeito à vida, à dignidade e ao próprio processo de envelhecimento. O tema é de vital importância pois todos ficarão mais velhos um dia. Nascidos no começo dos anos 2000 possuem mais chances de cruzar a fronteira dos 100 do que as gerações anteriores, o que confirma, invariavelmente, que envelhecer é o que há de mais moderno e ser avó(ô) deve ser um ganho social.