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2023
jul
25
Artigo

25 de julho: Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha

Em 25 de julho comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra, Latina e Caribenha. A data foi instituída pela ONU em 1992, durante o primeiro  Encontro de Mulheres Afro Latino Americanas e Afro Caribenhas. Comemora-se também o Dia de Tereza de Benguela, líder quilombola do século XVIII.

Artigo escrito por Kelly Quirino, doutora em Comunicação e professora dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Design Visual da UCB.

O evento proporcionou o encontro de mulheres negras de vários países das Américas para debater o sexismo e o racismo e as consequências de mais de 400 anos de colonização nas Américas. A exploração e a violência geraram desigualdade afetando mais as mulheres negras, que possuem os piores indicadores sociais do continente.

Dados da Síntese dos Indicadores Sociais (IBGE)  apontam que 63% das casas comandadas por mulheres negras no Brasil tinham renda de R$ 420 mensais, ou seja, viviam com menos de 2 dólares por dia, colocando estas famílias na linha abaixo da pobreza. Para mulheres brancas e com filhos, a proporção de casas abaixo da linha da pobreza é de 39,6%.

Segundo levantamento do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert), 41,5% das mulheres negras estavam subutilizadas no mercado de trabalho no fim de 2021. Para efeito de comparação, a subutilização entre os homens brancos era de cerca de 18% no mesmo período. (Brasil de Fato)

Diante deste cenário, em 2014, a Presidenta Dilma Roussef sancionou a lei nº 12.987/2014 que também instituiu o dia 25 de julho como dia nacional de Tereza de Benguela. Tereza foi líder do quilombo Quariterê, e viveu no século XVIII. Depois da morte do companheiro José Piolho, Tereza se tornou a rainha do quilombo, e sob sua liderança resistiram à escravidão por duas décadas até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças do governador da capitania do Mato Grosso, Luiz Pinto de Souza Coutinho. Parte da população (79 negros e 30 índios) foi assassinada e outra, aprisionada.

Ou seja, 25 de julho é uma data relevante para as mulheres negras. Para denunciar o racismo e também para propor políticas públicas interseccionais para mudarmos esta realidade.

Lélia Gonzalez foi uma das primeiras intelectuais afro-latinas a denunciar os efeitos do racismo na vida das mulheres negras. Lélia questionava o fato da matriz do feminismo do Brasil ser eurocêntrica, pautada principalmente na trajetória de mulheres brancas e silenciando em relação às especificidades das mulheres negras latino-americanas.  Em seus escritos, enfatizou a urgência de um feminismo negro que problematizasse a pluralidade de questões evidenciadas na vida da mulher negra brasileira.

Desde 2003, as políticas sociais focadas na luta contra a pobreza implementadas no Brasil, associadas a ações afirmativas na educação, geraram impactos diferenciados sobre as mulheres. De todas as famílias inscritas nos programas sociais brasileiros, 88% eram chefiadas por mulheres; destas famílias, 68% eram chefiadas por mulheres negras (ONU Mulheres, 2016).

Neste dia da mulher negra, é necessário reconhecer que os programas sociais de luta contra a pobreza extrema beneficiaram a população
afro-brasileira até o período pré-pandemia, mas as desigualdades existentes no Brasil permanecem marcadas por um profundo caráter racial.

Publicado por Samuel Siqueira
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