Com o objetivo de comparar as quantidades de açúcares informadas pelos fabricantes nos rótulos nutricionais dos néctares, os conhecidos sucos de caixinha, e refrigerantes, a estudante do curso de Nutrição, Gerciene Cavalcanti, apresentou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em defesa do aumento de impostos sobre as bebidas açucaradas para diminuir a ingestão dos produtos. Além disso, a ideia é estimular o consumo da fruta in natura ou da água para reduzir as complicações decorrentes do consumo de bebidas açucaradas.
A pesquisa analisou 28 amostras de sucos de caixinha e 12 amostras de refrigerantes e, ao verificar as informações nutricionais dos valores referentes aos carboidratos, constatou que os néctares possuem uma maior quantidade de açúcar em relação aos refrigerantes. “Como o teor de açúcar dos sucos foi alto, consequentemente, suas calorias também são maiores. Uma das sugestões que apresentei em meu TCC, como o aumento de taxas sobre os produtos açucarados, artigos de confeitaria e gelados, já ocorre em países como a Polinésia Francesa desde 2002. O México, por exemplo, desde 2013, começou a cobrar impostos sobre alimentos com 275 calorias ou mais em 100 gramas de produto”, disse.
Gerciene Cavalcanti acredita que a legislação brasileira também deveria ser mais eficiente ao obrigar os fabricantes a declararem nas informações nutricionais os teores de açúcares simples. “Seria uma alternativa para melhor esclarecimento tanto quantitativamente quanto qualitativamente dos ingredientes que determinado produto contém. A população tem o direito de saber o que está comprando e, principalmente, o que está consumindo”, afirmou.
“Apesar de já existirem pesquisas sobre o tema, muitas pessoas acreditam que o suco de caixinha (néctar) é mais saudável que o refrigerante, que é encarado como o vilão pela mídia. O suco de caixinha se utiliza do marketing, com imagens de frutas em sua embalagem, o que sugere que é feito com frutas, mas ao lermos a lista de ingredientes do produto encontraremos apenas água, açúcar, corantes, aromas artificiais e uma pequena quantidade de fruta, que quando processada perde suas fibras e a quantidade de açúcar é concentrada”, esclareceu Gerciene.
Para a pesquisadora, no entanto, a constatação não significa que o refrigerante é mais saudável, pois os dois itens são classificados com alta quantidade de açúcar, ou seja, nenhum dos dois é recomendado para o consumo. “É necessário estimular o consumo da fruta in natura ou da água em substituição ao suco, pois a maioria das crianças leva em suas lancheiras sucos de caixinha como se fosse um item obrigatório e saudável”, disse.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o nível de açúcares livres − os monossacarídeos e dissacarídeos adicionados aos alimentos e às bebidas pela indústria alimentícia, como os açúcares naturalmente presentes no mel, xaropes, sucos de frutas e nos concentrados de sucos de frutas − para crianças e adultos deve ser diminuído para menos de 10% na ingestão calórica total diária para reduzir o risco de sobrepeso, obesidade e cárie dentária. Por isso, reduzir essa porcentagem para 5% acarretaria efeitos positivos adicionais, tanto em adultos quanto em crianças.
Estudo na graduação
De acordo com a pesquisa, as calorias dos néctares são significativamente maiores que as calorias dos refrigerantes. As bebidas açucaradas possuem alta densidade energética, resultante do elevado teor de açúcar, e alto índice glicêmico. Por isso, a ingestão desses tipos de bebidas diminui o controle do apetite e contribui para o aumento da energia total ingerida.
Segundo resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), de junho de 2010, para o alimento ser considerado com quantidade elevada de açúcar deve possuir em sua composição uma quantidade igual ou superior a 15 g de açúcar por 100 g de produto ou 7,5 g de açúcar por 100 ml de produto. Nas 40 amostras analisadas, todas ultrapassaram a quantidade máxima de 7,5g de açúcar por 100ml, ou seja, todas as amostras analisadas são classificadas como alimentos com quantidades elevadas de açúcar.
Como a legislação brasileira não obriga os fabricantes a declararem as quantidades de açúcares, nos rótulos dos sucos de caixinha, foram observadas as quantidades de carboidratos simples, pois eles são compostos de frutose, proveniente dos carboidratos da própria fruta, ou sacarose, o açúcar que é adicionado durante a fabricação da bebida. Com o objetivo de comparar as quantidades de açúcares informadas pelos fabricantes nos rótulos nutricionais de néctares e refrigerantes, foi utilizado o modelo descritivo transversal com abordagem quantitativa. Por meio de estatística descritiva, a pesquisa utilizou 28 amostras de néctares em embalagens de 1 litro e 12 amostras de refrigerante em embalagens de 2 litros, totalizando 40 produtos.
Na tabela, foram analisadas ainda a média de açúcar de acordo com o sabores dos néctares. O suco de uva obteve a média de 26,14g de açúcar em 200 ml de produto, sendo a amostra com a maior média de teor dos açúcares totais. A amostra com menor quantidade de açúcar foi a do sabor laranja, com 16g em 200ml. Entretanto, a menor média de açúcar entre os sabores foi de 22,71g/200ml nos néctares de sabor maracujá. No caso dos sabores dos refrigerantes, o sabor uva também obteve a maior média de açúcar, com 25,5g/200ml. Em contrapartida, o sabor guaraná obteve a menor média, com 19g/200ml.