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2023
jan
12
Pills and pill bottle on grey wooden table background
Pesquisa

Pesquisa da UCB nega que aspirina cause insuficiência cardíaca

Uma notícia sobre os supostos riscos da aspirina gerou grande preocupação nos últimos meses, especialmente em pacientes que usam o medicamento diariamente, com prescrição médica, para prevenir infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Mas será arriscado mesmo? Na verdade, não é bem assim. Segundo uma pesquisa da Universidade Católica de Brasília (UCB) em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), foi comprovado que os riscos são praticamente nulos, menos do que 0,1%.

Vamos do começo: um artigo foi publicado por pesquisadores da Universidade de Leuven, Bélgica, na revista ESC Heart Failure, da Sociedade Europeia de Cardiologia. Consta que a aspirina aumentaria em 26% o risco de insuficiência cardíaca, além de ser ineficaz na prevenção do problema. A notícia caiu como uma bomba entre cardiopatas no mundo todo que usam o medicamento para evitar a criação de coágulos e, consequentemente, o infarto.

Contudo, o método usado na pesquisa foi questionado pelo professor Luiz Sérgio Carvalho, do curso de Medicina da Católica de Brasília. Juntamente com uma equipe que incluía pesquisadores da Unicamp e UFRGS, Carvalho notou que a investigação foi baseada na análise inadequada de uma base de dados de pacientes. Os cientistas de Leuven examinaram dados de milhares de pacientes sem o cuidado de rastrear o motivo da prescrição médica ou se a administração da aspirina era como recurso de tratamento ou prevenção de doenças no coração. “Não havia nenhum protocolo para iniciar aspirina, então a decisão era totalmente baseada em critérios não objetivos”, explica. “Este tipo de desenho de estudo (observacional) permite apenas associar e não afirmar que uma coisa causa outra”.

Segundo o professor, o ideal seria trabalhar com dois grupos: um deles receberia o remédio e o outro tomaria placebo, mas ninguém saberia se estava recebendo o medicamento verdadeiro ou o falso, chamado de controle. Além disso, deveria haver distinção entre pessoas com histórico de doença coronariana as que nunca tiveram diagnóstico. Dessa forma, seria possível analisar a evolução dos dois grupos e determinar se, de fato, existe uma relação de causa entre o uso de aspirina e as complicações cardíacas.

Sem esses cuidados, explica o professor da UCB, pode haver a falsa impressão de que o comprimido está causando dano ao coração, quando na verdade “isso pode ser simplesmente porque as pessoas que receberam a prescrição de aspirina já possuíam (antes de receber a aspirina) risco maior de desenvolver insuficiência cardíaca”.

A contestação do estudo europeu por parte dos pesquisadores da Católica de Brasília foi baseada em na análise de diversos estudos randomizados, aqueles que dividem os indivíduos em grupos que tomam o remédio ou o placebo ­– a metodologia correta. Ao todo, 40.418 pacientes sem doença cardíaca foram acompanhados em média por 2 anos. A principal conclusão foi de que a probabilidade da aspirina aumentar o risco cardíaco em até 20% é menor do que 0,1%. Bem diferente do que o alarmante valor de 26% sugerido pelos belgas. “A importância de nosso artigo é principalmente para destacar que relação causal entre aspirina e insuficiência cardíaca é muito improvável”, comenta Luiz Sérgio Carvalho,

Dessa forma, os pacientes que usam o medicamento com prescrição médica e na dosagem correta não precisam se preocupar, porque o risco de complicação é mínimo. Já os fatores positivos são comprovados tanto por pesquisas científicas, quanto pelos efeitos observados em casos clínicos há décadas, no mundo todo. A recomendação do professor para pacientes cardíacos “é sempre seguir seu médico. E aqueles que ficaram com medo do risco de insuficiência cardíaca ao ler matérias que circularam na mídia leiga (a respeito do artigo belga), podem ficar tranquilos pois esse risco é remoto”, conclui.

Publicado por Samuel Siqueira
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