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O consumo de marmitas comercializadas por ambulantes durante o almoço é uma prática bastante adotada no Distrito Federal, desde a época da construção de Brasília. Com o objetivo de identificar a qualidade nutricional dessas refeições, a estudante do último semestre do curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB), Amanda Hoffmann, realizou a pesquisa: “Análise da composição química de marmitex comercializados por ambulantes”, sob a orientação da professora Iama Marta de Araújo Soares.
Foram analisados o valor energético e a distribuição de macronutrientes de 10 refeições populares comercializadas por ambulantes de diferentes regiões do DF. Para compor o trabalho, a estudante ainda desenvolveu uma pesquisa bibliográfica acerca da transição alimentar pela qual passa o Brasil, tendo por base o tema: “alimentação fora dos domicílios”.
Amanda explica que para as análises da composição das marmitas e verificação do VET (valor energético total) foram estimadas medidas equivalentes, utilizando o sistema de avaliação e prescrição Dietwin. Para facilitar a interpretação dos dados, foi feita a média de cada macronutriente e comparado por meio das recomendações do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), pois a maioria das pessoas que consome essa refeição comercializada na rua são trabalhadores, em virtude de não conseguirem ir para casa realizar essa refeição.
Dentre os pontos que chamaram mais atenção, estão: a quantidade da porção, higiene, local onde é comercializado e armazenado. “As marmitas apresentavam grande quantidade de comida. De acordo com o PAT, uma refeição grande como o almoço deve apresentar um valor energético total de 600 kcal a 800 kcal, podendo acrescentar 400 kcal em caso de serviços mais intensos. Na análise, 40% das marmitas apresentaram calorias acima da recomendação e 10% apresentou calorias abaixo do recomendado. Nem todos os vendedores usavam touca, outros apresentavam unhas compridas ou com esmaltes. Esses alimentos são comercializados em calçadas ou porta-malas e armazenados em caixas de isopor. Definitivamente, não são as condições mais adequadas para a venda e o consumo de refeições”, pontua a estudante.
A recomendação de macronutrientes para o almoço, objetivando a prevenção de agravos e manutenção da saúde do trabalhador, deve ser de 60% de carboidratos, 15% de proteínas e 25% de lipídios. A pesquisa aponta que em relação ao percentual de carboidratos, 90% das marmitas estavam abaixo da recomendação. Já quanto ao percentual de proteína, 90% das marmitas apresentaram índices acima do recomendado que é de 15% da dieta, e 50% delas apresentou o percentual acima do recomendado em relação aos lipídios.
Como resultado, verificou-se que as marmitas são excessivamente calóricas e ricas em gorduras, o que favorece o desenvolvimento de obesidade e de doenças cardiovasculares. Além disso, “as condições higiênico-sanitárias não são conhecidas, expondo o consumidor às doenças transmitidas por alimentos. Para minimizar os efeitos deletérios desse tipo de comércio, faz-se necessário o incremento de campanhas educativas à população em geral, para que façam escolhas saudáveis na alimentação cotidiana. Informações acerca de como deve ser montada uma marmita ideal e princípios relacionados às boas práticas de fabricação de alimentos devem ser disseminados para os produtores/vendedores, já que, embora indesejável, o comércio informal é uma realidade no país como alternativa para pessoas que necessitam de refeições econômicas”, explica a orientadora na pesquisa, professora Iama Soares.
A pesquisa ainda alerta que é importante ressaltar que não se sabe onde esses alimentos são produzidos, as condições higiênicas e sanitárias do local de produção e de seus manipuladores. “É importante analisar se o alimento está bem embalado e em um local armazenado apropriado. Dê preferência por alimentos trazidos de casa ou locais que tenha acompanhamento de uma nutricionista, para identificação de problemas que englobam desde o planejamento dos cardápios até as demais etapas que envolvem a produção e distribuição de refeições”, aconselha a futura nutricionista.