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Após meses de discussão, a comissão de especialistas convocada pelo Ministério da Educação (MEC) para propor uma série de mudanças curriculares nos cursos de Jornalismo entregou o relatório final ao Conselho Nacional de Educação (CNE). A mais polêmica é a separação da habilitação de Jornalismo do curso de Comunicação Social. O CNE, órgão responsável por revisar as diretrizes e discuti-las com a sociedade, está analisando o documento. A comissão é presidida pelo professor José Marques de Melo e integrada por Alfredo Vizeu, Carlos Chaparro, Eduardo Meditsch, Luiz Gonzaga Motta, Lucia Araújo, Sergio Mattos e Sonia Virginia Moreira.
A proposta mais debatida entre os estudantes e professores é a possível desvinculação de Jornalismo do curso de Comunicação Social. Um dos argumentos do relatório é que o jornalista é um profissional reconhecido internacionalmente e tem ocupação regulamentada no Código Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho, mas a Comunicação Social não é uma profissão em nenhum país do mundo, mas sim um campo que reúne diferentes profissões.
Diretor do Curso de Comunicação Social da UCB, André Carvalho, que compareceu a uma das audiências publicas realizada pela comissão, não acredita que separar o jornalismo da área da comunicação seja fundamental. “As diretrizes oferecem mudanças interessantes, mas não acho que a cisão seja essencial, o curso de Jornalismo poderia ser reconhecido dentro ou fora da Comunicação Social. Não vejo tanto benefício na separação.”
Para alguns alunos a possível mudança ainda é muito nova, e tanto pode ser boa quanto ruim para a classe. “Não sei dizer ainda se sou a favor ou contra. Pra mim, Jornalismo e Comunicação Social são extremamente ligados, embora tal separação possa trazer reformas interessantes para o Jornalismo, algo que seria mais difícil sem a desvinculação”, diz Nayara Machado, estudante do 4º semestre.
No relatório, os especialistas afirmam que a formação universitária da profissão no país teve conseqüências prejudiciais na substituição do curso de Jornalismo pelo curso de Comunicação Social em um modelo único. Com essa unificação teria ocorrido, afirma o documento, o desaparecimento de conteúdos fundamentais, como teoria, ética, deontologia e história do jornalismo, ou a união de conteúdos gerais da Comunicação em que o Jornalismo não pode ser guiado por objetivos de publicidade, relações públicas ou mero entretenimento.
Algumas Propostas
Outras sugestões do documento bastante repercutidas são a do estágio supervisionado e a do aumento da carga horária das atuais 2.700 horas para 3.200 horas. Segundo André Carvalho, “é bastante difícil que algum aluno se forme sem ter conseguido um estágio, mas o relatório propõe uma formalização e isso trará benefícios aos alunos”. A ampliação de horas no currículo estaria ligada diretamente à obrigatoriedade do estágio e também a outras atividades, como participação em congressos ou pesquisas.
Para os alunos, os estágios são necessários para o desenvolvimento da técnica e também ajudam a decidir em que área atuar. “Acho muito interessante essa proposta. Faço estágio desde o primeiro semestre e sei da importância dessa experiência, não dá pra se formar sem ter atuado na área. Boa parte do que aprendemos de produção de informação é na prática, com os estágios”, afirmou Nayara.
Para a estudante do 6º semestre Carla Freitas, o estágio foi a forma de decidir o que queria. Ela acredita que essa é a melhor proposta do documento. “Tinha dúvidas se queria mesmo ser jornalista. Quando comecei o meu primeiro estágio em assessoria de imprensa, percebi que era aquilo mesmo que eu queria ser. Acho que esse é um dos pontos altos da atualização das diretrizes do curso”, disse.
Além disso, o relatório final proposto pela comissão destaca as inovações de mercado, tem como um dos objetivos o equilíbrio de teoria e técnica na graduação e a inclusão da rotina de trabalho do jornalista em assessoria de imprensa. “Quando as diretrizes dizem a respeito especificamente ao Jornalismo, as propostas vão muito bem, sistematiza e atualiza bem como é a profissão no Brasil, o que as diretrizes antigas não faziam. Esse relatório final ressalta questões novas de mercado e uma maior visibilidade da área, porém peca em alguns excessos, como no tema da cisão do curso”, finaliza André Carvalho.
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