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Tempo seco, clima frio e sem chuvas. Com a chegada do inverno, no dia mais frio do ano, os termômetros chegaram a marcar 8,5°C no Distrito Federal com a sensação térmica ainda mais baixa, de 2º C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A tendência é que o índice de umidade relativa do ar abaixo dos 30% e picos de umidade abaixo de 20% permaneçam até o mês de setembro, muito abaixo do índice ideal de 60%, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Este cenário é propício para o surgimento e transmissão de diversas doenças respiratórias e de infecções virais e bacterianas, como rinites, sinusites, pneumonias e asmas.
Como consequência, a baixa umidade do ar deixa as narinas e os olhos ressecados e ocasiona a desidratação das células, principalmente, da pele e das mucosas, com a carência de água e de sais minerais no organismo, o que causa cansaço e dor de cabeça. O principal vírus da época que atinge crianças é o influenza, causador de rinite, otite, sinusite, pneumonia, conjuntivite, asma e, em adultos, a tosse rouca com febre e dor de garganta, com agravamento à noite. Outros vírus causadores de infecções gastrointestinais com diarreias agudas são o adenovírus, o citomegalovírus, o astrovírus, o calicivírus – que têm maior incidência no Distrito Federal – e o rotavírus, que é o mais perigoso, representando 40% dos casos de diarreia aguda. De acordo com a professora do curso de Medicina da Universidade Católica de Brasília (UCB), Alessandra Ribeiro Ventura Oliveira, “O influenza é o grande vilão das doenças. Antes do período de seca, todas as crianças são vacinadas contra o vírus. Mesmo assim as viroses se reproduzem no músculo do corpo, provocando mialgia, que são as dores no corpo”.
Segundo a especialista, um alerta para procurar um hospital é observar se a criança apresenta falta de ar, cansaço ou dores de cabeça. “Toda mãe conhece seu filho. Há crianças que estão com pneumonia, mas só reclamam depois de uma semana porque apresentam falta de ar. Se o seu filho está com febre por 72 horas e mantém o seu estado geral, deve levá-lo ao pronto-socorro, mesmo que ele esteja brincando e ativo. Isso porque algumas infecções virais provocam sete dias de febre. Em bebês, os indícios para uma pneumonia são a falta de apetite e a febre, por exemplo”.
A palavra-chave na prevenção de doenças é a hidratação, pois os vírus e as bactérias se aderem facilmente a células ressecadas. Para a professora Alessandra Ventura, os umidificadores de ar são benéficos desde que não fiquem ligados por longas horas e não estejam em contato com paredes mofadas ou úmidas para evitar a proliferação de fungos no local. “Os umidificadores devem ser usados por pequenos períodos de tempo e ao utilizá-los em casas sem cerâmica, por exemplo, haverá grande risco de fungos no local, o que afeta doenças respiratórias”, explicou.
Para se ter uma ideia, de acordo com registros dos últimos 21 anos – de janeiro de 1994 a maio de 2015 – de atendimentos do pronto-socorro do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), o mês de abril representa um volume 23% maior no número de atendimentos realizados na emergência pediátrica no período. Em 2014, houve um aumento de mais de 30% na demanda em relação a 2013, sendo que o mês de maio é o campeão em atendimentos registrados devido a incidência de doenças respiratórias, com maior potencial de gravidade em crianças. As estatísticas do HMIB indicam um comparativo mais de seis vezes maior de internações por doenças respiratórias do que por doenças infecciosas gastrointestinais, que ocorrem com maior incidência nos meses de estiagem, como o rotavírus, uma causa relevante de diarreia em menores de cinco anos.
Alessandra é gastropediatra no Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Ela aponta como período de maior número de casos no pronto-socorro pediátrico os meses de março a junho, com média de 6.500 atendimentos no ano de 2014. “Neste período climático, poeira, poluição e pelos de animais ficam mais tempo suspensos no ar. Assim, as células do sistema imunológico têm mais dificuldade de chegar às vias aéreas, quando o aporte dessas células é reduzido. “Esses agentes contribuem para a ocorrência de doenças como rinite e conjuntivite alérgicas. No ano passado, entre as crianças lactentes, até completar o primeiro ano de idade, a prevalência de bronquiolite foi de 98,7%, seguida por infecção das vias aéreas superiores, com taxa de 57%, a pneumonia com 54% e a asma com 32% de casos registrados”, frisou.
Seca duradoura, clima desfavorável
Desde 2015, o volume de chuvas tem sido baixo com registro de somente 154 milímetros, enquanto a média para o período deveria ser de 246 milímetros. A dissertação de Mestrado em Geografia de Renato Emanuel Silva, da Universidade Federal de Uberlândia, aponta que o clima tem relação direta com as doenças respiratórias. Em sua análise, a estação seca, combinada à baixa umidade do ar e à ausência de ventos, é um cenário propício à concentração de gases poluentes, o que “agrava ainda mais problemas respiratórios”.
Apesar de ser sucesso na diversão das crianças nas férias, o cinema pode ser um grande problema para alérgicos devido ao ar condicionado e ao carpete. Para a gastropediatra, algumas recomendações podem ajudar a enfrentar a seca de forma amena, com o uso de toalhas molhadas e bacias de água no ambiente. “É preciso acrescentar muito líquido à dieta habitual da criança, hidratar a pele com produtos sem perfume e, nas vias aéreas, utilizar soro fisiológico de quatro a seis vezes ao dia. Neste período, em crianças alérgicas, é preciso procurar um médico especializado, enquanto crianças intolerantes e com alergia alimentar devem seguir uma dieta adequada e ter cuidado também com a hidratação”, disse.
Segundo ela, pele, olho e boca são afetados pela mudança de temperatura. “No clima seco, a pele coça e surgem as infecções. O nariz queima, com a sensação de ardência, pois o esforço para respirar é muito maior. As crianças costumam chegar ao pronto-socorro reclamando de dor torácica e até taquicardia, muitas vezes, ocasionada por uma rinite, que dificulta a respiração. Por isso apresentam tosse seca, falta de ar e cansaço”.
Liga acadêmica de Alergia e Imunopatologia
Em março deste ano, a LAI lançou seu primeiro Manual de Alergia Alimentar, que tratou de diversas alergias, como leite de vaca, ovo, carne de bovina, soja, trigo, amendoim e frutos do mar, além da relação entre a alergia alimentar, o uso de fórmulas e a asma.
Está previsto para agosto um minicurso com a discussão dos temas para o próximo manual da Liga acadêmica de Alergia e Imunopatologia.
O manual está disponível no portal da UCB!