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Por Joyce Teles – Olfato Comunicação
Design, tecnologia, cultura pop e estratégias de mercado foram os assuntos abordados no terceiro dia do III Festival de Economia Criativa. Com oficinas interativas, feira de quadrinhos, Interprogramas e mesa-redonda sobre identidade de marca, a Universidade Católica de Brasília reuniu estudantes, professores e profissionais do mercado em um dia dedicado à troca de experiências. O evento aproximou teoria e prática, provocou reflexões e mostrou como a economia criativa já é realidade para os estudantes da comunicação.
Durante a manhã, os blocos K e Central receberam as Oficinas CONECOM, composta por atividades interativas ministradas por mestrandos da UCB e convidados do mercado. Simultaneamente, a Feira de Quadrinhos, organizada em parceria com o projeto Pop ao Cubo, movimentou a área de convivência do Bloco Central com artistas, exposições e trocas sobre a cultura pop.
As oficinas abordaram temas contemporâneos da comunicação, como inteligência artificial no cinema, mercado de games, estratégias de SEO, anúncios digitais e Game Thinking. Um dos destaques foi a oficina “A IA no Cinema”, com Ciro Araújo, editor do CRTV, que discutiu como a inteligência artificial vem moldando não apenas a produção de imagens, mas a forma como as pessoas as percebem. “A IA facilita os processos, mas pasteuriza as imagens. As pessoas observam imagens de forma medíocre, no sentido de média mesmo. Perdemos a originalidade visual”, afirmou.
Além da técnica, Ciro provocou reflexões sobre ética, autoria e originalidade, mencionando a greve dos atores em Hollywood como alerta sobre o uso da IA em processos criativos. “É preciso pensar em ética, autoria e originalidade”, reforçou.
Estudantes mostraram interesse ativo pelas temáticas propostas. Pedro Lucas Soares, aluno de Cinema e formado em Publicidade, relatou que a IA já faz parte do seu cotidiano. “É um tema que me impacta diretamente. Como futuro profissional do cinema, quero entender como usá-la de forma criativa e consciente.”
Na oficina sobre Processo Criativo e o Mercado de Games no DF, o oficineiro Rodrigo de Carvalho destacou o crescimento do setor na capital. “Já temos estúdios ganhando prêmios internacionais. A produção de games no DF é promissora.” Rodrigo também propôs dinâmicas de RPG e brainstorm para estimular a criatividade. “Essas ferramentas extrapolam os games. Quando você vê por outro ângulo, nascem soluções inovadoras.”
O estudante João Pedro Ferreira, de Publicidade e Propaganda, reforçou a conexão entre o tema e sua trajetória pessoal: “Sou envolvido com games desde pequeno. Falar sobre isso em Brasília, com incentivo real, me faz acreditar que o setor pode crescer de forma sólida.”
Simultaneamente, na área de convivência, a Feira de Quadrinhos reuniu expositores e artistas locais em uma celebração da cultura pop. O evento, em parceria com o projeto Pop ao Cubo, teve como objetivo mostrar aos estudantes que é possível construir uma carreira dentro da economia criativa. A aluna de Design Visual, Giulia Blainner, apresentou um projeto de aplicativo de clube do livro e destacou o potencial de interação e descoberta que a proposta oferece.
O professor Ciro Marcondes, coordenador do projeto Pop ao Cubo, explicou o propósito da iniciativa. “Queremos conectar a cultura pop à pesquisa acadêmica. Quadrinhos, música, cinema e fotografia são expressões que movimentam a economia e merecem ser tratadas com seriedade. Não só nos grandes estúdios, mas também aqui, na nossa cultura local.”
Entre os expositores da feira esteve Tiago Palma, ilustrador com mais de 20 anos de carreira, atualmente artista contratado da Marvel, para desenvolver quadrinhos para a série Os Novos Vingadores. Para ele, o festival cumpre um papel essencial ao conectar estudantes ao mercado real. “É fundamental que essa galera em formação tenha esse contato direto com quem já está na ativa. O festival tira as ideias do campo teórico e mostra possibilidades concretas”, concluiu.
À tarde, a programação seguiu com o Interprogramas, um momento voltado à apresentação de trabalhos acadêmicos. Estudantes da pós-graduação da UCB e de outras instituições se reuniram em Grupos de Trabalho (GTs) para compartilhar pesquisas e discutir temas ligados à economia criativa.
Encerrando a programação, a mesa-redonda no auditório do Bloco K reuniu estudantes e profissionais para uma conversa franca sobre identidade, design e branding. Com o tema “Logo não é marca. Marca não é logo”, o designer Thiago Schiavo provocou o público com reflexões que aproximaram teoria e cotidiano.
“Todos vivemos num mundo de marcas. Desde que nascemos até o fim da vida, somos atravessados por elas”, afirmou. Schiavo trouxe exemplos que mostraram como as marcas se relacionam com emoções, hábitos e memórias. “Você diz que não liga para marcas, mas tem aquela palheta Fender que custa 5 reais e que faz diferença no seu som. Isso é marca.”
Ele foi além: “Pode existir uma marca sem logo, mas não existe um logo sem marca. Eu sou uma marca, mesmo sem ter logotipo. Marca é percepção construída ao longo do tempo.”
A mediação ficou por conta do professor doutor Alexandre Kieling, que destacou o papel da universidade em provocar e deslocar os alunos de sua zona de conforto. “Estamos vivendo uma era pós-industrial, com menos empregos e mais trabalho. Se não entendermos a potência do empreendedorismo, perdemos oportunidades. Este festival inquieta, provoca, faz pensar.”
Para Kieling, o impacto do evento já é visível. “O que os alunos estão criando, propondo e expondo já mostra que a economia criativa é um caminho real. A festa começou, e ela é dos estudantes.”
A programação do III Festival da Economia Criativa segue até sexta-feira, dia 27, com mais atividades que reforçam o potencial da UCB como espaço de inovação, cultura e formação voltada para o mercado criativo.