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Por Isabel Cristina
Nesta segunda-feira (23), teve início a terceira edição do Festival da Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília. A programação foi aberta com a participação da socióloga e artista indígena Merremii Karão Jaguaribaras, que contribuiu para a discussão sobre o tema “Arte, memória e resistência: os saberes ancestrais e as narrativas visuais indígenas contemporâneas”. A mediação foi feita pela professora doutora Florence Dravet.
Durante a abertura, o professor Alexandre Kieling, coordenador do Programa de Pós-graduação Profissional em Inovação em Comunicação e Economia Criativa, destacou o diferencial do festival: a articulação entre graduação, mestrado e doutorado, consolidando a universidade como referência nacional. “Aproxima graduação e pós-graduação devido àquilo que a gente está chamando de área. É o que a gente vem trabalhando para construir, inclusive do ponto de vista epistemológico, uma área que faz essa interface entre a comunicação e a economia criativa. É por isso que nós somos o primeiro mestrado, o primeiro doutorado profissional em comunicação do país. Então, a gente já começa fazendo história”, disse o professor.
Merremii Karão Jaguaribaras, artista visual e pesquisadora indígena, compartilhou sua trajetória marcada pela valorização da memória coletiva e das expressões culturais dos povos originários. Em sua fala, relatou que decidiu tornar-se escritora ao perceber a ausência de autores indígenas durante sua graduação em Sociologia. Conectada ao tema central do festival, a biomimética, sua presença reforçou a importância de escutar a terra e valorizar os saberes tradicionais. Ela defendeu que inovação também é escuta, conexão e reconhecimento.
Merremii também compartilhou episódios de discriminação vivenciados por seu filho e seu sobrinho em ambientes escolares, ressaltando como o preconceito contra indígenas ainda se manifesta de forma cotidiana. Em uma ocasião, seu filho foi desacreditado por uma educadora que afirmou que ele “não era indígena de verdade” por causa de seu modo de se vestir. A professora ainda disse que, se ele fosse realmente indígena, estaria “no mato ou na Amazônia”, porque “os indígenas não existem mais”.
Em outro episódio, seu sobrinho foi impedido de entrar na escola por estar com o corpo pintado com grafismos tradicionais de seu povo. A justificativa da direção foi que “nenhuma criança podia entrar tatuada”. A família precisou enviar um ofício à escola explicando que as pinturas corporais fazem parte da identidade e da cultura indígena, não são tatuagens, mas expressões ancestrais de pertencimento.
Ao relatar essas experiências, Merremii reforçou como a arte também se torna um ato de resistência: “A arte também faz parte do ativismo. Quando meu filho sofre esse tipo de discriminação e volta no outro dia com a pintura, isso é artivismo: é dizer ‘eu sou assim, me aceite neste espaço’.”
Outro destaque da programação foi a Feira Criativa, que reuniu produções dos alunos em diferentes formatos, como maquetes, animações, vídeos, desenhos e instalações visuais. Os trabalhos foram desenvolvidos ao longo do semestre e apresentados em estandes, promovendo a integração entre os conteúdos das disciplinas e os conceitos da economia criativa. A proposta da feira foi estimular o pensamento crítico, a criatividade e a colaboração entre os alunos, além de provocar reflexões sobre cidades mais humanas, inteligentes e sustentáveis.
A professora Vânia Balbino, organizadora da feira e docente da disciplina Processo Criativo, comentou: “A gente queria que houvesse uma expressão criativa manifestando esse processo. Era importante que os estudantes estivessem presentes com essa expressão, né? Manifestando esse processo criativo.”
A estudante Elis Bella, expositora na feira, destacou a mensagem por trás de sua criação — uma maquete inspirada no filme Up: “Eu queria trazer a reflexão sobre cidades mais humanas. Às vezes, a gente só vê prédio cinza, prédio preto. Eu queria trazer essa questão da cor e de algo realmente humano.”
O evento é realizado pela Universidade Católica de Brasília e conta com o apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP). O festival segue até o dia 27 de junho, com uma programação gratuita e diversificada. A programação completa está disponível no Instagram oficial: @festivalecocriativa.