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Artigo do professor Leandro Machado, infectologista, do curso de Medicina.
A gripe aviária H5N1 voltou a chamar a atenção da comunidade médica e da população em geral após a confirmação do primeiro óbito humano nos Estados Unidos. Um homem de 66 anos, na Louisiana, com comorbidades importantes, contraiu o vírus após contato com aves infectadas em sua propriedade. Segundo a OMS, o risco de transmissão para humanos permanece baixo, mas episódios como esse reforçam a importância de vigilância contínua e protocolos robustos de prevenção.
Desde abril de 2024, foram registrados 61 casos de infecção humana pelo H5N1 nos Estados Unidos. A maioria dos pacientes apresentou sintomas leves, e todos os casos estão relacionados ao contato direto com aves infectadas. Até o momento, não há evidências de transmissão sustentada entre humanos, embora raros episódios de possível transmissão limitada tenham sido observados em outros países.
Grupos de risco, como idosos, pessoas com doenças crônicas (diabetes, cardiopatias, doenças pulmonares), e trabalhadores rurais que lidam diretamente com aves, estão mais vulneráveis a complicações e ao óbito. Como médicos, sabemos que estas populações exigem maior atenção, tanto para prevenção quanto para manejo clínico precoce.
O governo dos EUA tem adotado uma postura firme diante da situação. Com um aporte de US$ 300 milhões, a administração Biden busca preparar a infraestrutura hospitalar, criar estoques estratégicos de vacinas e fortalecer a vigilância epidemiológica. A meta é garantir, até 2025, um estoque de 10 milhões de doses de vacinas contra o H5N1, prontas para uso em caso de emergência.
A Califórnia, onde houve um aumento expressivo de casos em trabalhadores rurais, declarou estado de emergência. As medidas adotadas incluem orientação para o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) por trabalhadores expostos e campanhas de conscientização sobre o consumo seguro de alimentos de origem avícola.
No Brasil, o cenário é de alerta preventivo. Desde maio de 2023, o Ministério da Agricultura declarou estado de emergência zoossanitária após a detecção do H5N1 em aves silvestres. O monitoramento foi ampliado, e um painel de vigilância foi disponibilizado, atualizando informações em tempo real sobre casos confirmados.
Embora ainda não tenhamos casos humanos no Brasil, as autoridades seguem atentas. Com a avicultura sendo um dos pilares da economia nacional, há uma preocupação legítima em evitar impactos sanitários e econômicos.
Do ponto de vista médico, as medidas de prevenção são simples, mas efetivas:
• Evitar o contato direto com aves infectadas ou mortas.
• Garantir o consumo seguro de carnes e ovos, sempre bem cozidos.
• Orientar trabalhadores expostos ao uso de EPIs adequados.
Além disso, é essencial estar atento aos sintomas iniciais em pacientes com exposição recente a aves, como febre, tosse, dor no corpo ou sintomas respiratórios progressivos.
A gripe aviária H5N1 é um exemplo clássico de como zoonoses podem ser controladas com vigilância ativa, protocolos bem definidos e uma rede de atenção integrada. Mesmo que o risco de transmissão para humanos permaneça baixo, como médicos, precisamos estar preparados para identificar precocemente casos suspeitos e agir rapidamente.
A situação nos Estados Unidos e a resposta brasileira até agora mostram que, embora o vírus não tenha potencial pandêmico imediato, ele exige respeito e atenção. Nosso papel, enquanto profissionais da saúde, é reforçar a confiança em medidas preventivas e educar a população para evitar pânico, mas também a complacência.
Assumir um papel ativo na prevenção e manejo de zoonoses é um dever que temos, não apenas com nossos pacientes, mas com a saúde coletiva.