A notícia chegou pelo Diário Oficial do Distrito Federal depois de semanas de expectativa. Pedro Paulo Cruz de Oliveira Silva, 27 anos, aluno do último semestre de Medicina da Universidade Católica de Brasília, já tinha ligado duas ou três vezes para a FAPDF (Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal) tentando descobrir se havia algum atraso ou problema. O estudante acaba de conquistar uma bolsa para apresentar seu trabalho na XLIII Reunião Anual da Sociedade Espanhola de Epidemiologia e no XX Congresso da Associação Portuguesa de Epidemiologia, que acontecem entre os dias 2 e 5 de setembro, na Espanha.
O projeto, intitulado “Investigação do conhecimento da Hepatite Viral C em adultos usuários dos serviços de ambulatório de uma universidade particular do Centro-Oeste”, foi desenvolvido sob orientação da professora Maria Liz Cunha e é fruto de um financiamento da própria UCB.
Ao receber a notícia da bolsa, a professora Maria Liz relata: “Recebi a notícia com imensa alegria e orgulho. Saber que o Pedro Paulo foi contemplado com o fomento. Nós participamos no mesmo edital com duas pesquisas de IC e uma de mestrado, e ele conseguiu. O resultado é a validação não apenas do trabalho dedicado dele, mas também do compromisso que temos, enquanto grupo de pesquisa, com a formação de excelência. O trabalho de orientação de IC ou pós-graduação não pode terminar sem que o estudante aprenda a captar apoio à divulgação da pesquisa, nacional e internacional, como é o caso.”
A pesquisa começou dentro da Liga Acadêmica de Doenças Infectoparasitárias e nasceu com uma hipótese clara. “A minha defesa inicial seria de que as pessoas não teriam o conhecimento sobre hepatite C. Seria como a forma de transmissão, o que causa a repercussão no sistema e se tem vacina, se não tem vacina, se tem tratamento, se tem cura. E, no final, os resultados confirmaram: as pessoas de fato não sabem”, explica o futuro médico.
Para Pedro, os dados mostram que há um problema maior, que passa pela forma como as políticas públicas de saúde são desenhadas. “A testagem nas grávidas é obrigatória, mas só para as grávidas. Por que não é oferecida para qualquer pessoa que vai se consultar na UBS? É um teste rápido, sai em cinco, dez minutos, não custa nada. A gente tem que aumentar essa busca ativa.” Ele lembra que o Brasil tem o compromisso de eliminar as hepatites virais B e C até 2030, mas, segundo ele, “a gente está muito longe, muito mesmo” dessa meta.
Como professora, Maria Liz compartilha sua emoção: “Como professora, educadora e pesquisadora, sinto-me profundamente realizada em ver um estudante crescer, ocupar espaços de visibilidade acadêmica e ter a oportunidade de dialogar com outros pesquisadores. É emocionante perceber que nossos esforços com vários mutirões realizados para coletar sangue para testagem, aplicar questionário de conhecimento da hepatite C e fazer educação em saúde se concretizam em conquistas como essa.” Ela destaca ainda as menções honrosas recebidas por Pedro: “Ele também recebeu Menção Honrosa no 30° Congresso de Iniciação Científica da Universidade de Brasília e no 21° Congresso de Iniciação Científica do DF. O sucesso dele é também uma inspiração para os demais estudantes e reforça a importância da Universidade Católica na valorização da ciência.”
O projeto de Pedro, segundo Maria Liz, é resultado de uma parceria importante. “O projeto foi financiado pela Universidade Católica em parceria com a Secretaria de Saúde do DF/ Gerência de IST-AIDS. Agradeço às duas instituições por acreditarem no nosso projeto”, disse.
O trabalho de campo foi intenso, mas prazeroso. Pedro diz que se divertiu durante o período de testagens, ao aplicar questionários e conversar com a comunidade acadêmica. Depois do teste, explicava sobre a doença, modos de transmissão, sintomas, tratamento e prevenção. A experiência também trouxe amadurecimento acadêmico e pessoal. Ao longo da pesquisa, Pedro integrou calouros da liga, ensinou colegas mais novos a fazer as testagens e conviveu com diferentes perfis de pacientes.
Antes da Espanha, ele vai passou por dois “treinos” importantes: a apresentação no Congresso de Iniciação Científica da UnB e, em seguida, no da própria Católica. “Ali já é uma experiência, né? Nessas ocasiões surgiram dúvidas e melhorias que falaram sobre o trabalho, então acho que já me deram uma base para chegar lá mais preparado.”
A pesquisa científica, até pouco tempo, não fazia parte dos seus planos. “Eu fui muito influenciado pela minha amiga, Manuela Zaidan. Eu falava que, se fosse fazer um projeto, eu não queria fazer por fazer, só para currículo. Queria um tema que eu gostasse e que fosse legal. E esse foi o projeto perfeito.” Agora, ele admite que essa trajetória fez repensar o futuro: “Talvez, depois dessa experiência, eu mudei um pouco a cabeça.”
A professora doutora Maria Liz destaca a importância da Iniciação Científica na formação dos alunos: “A Iniciação Científica estimula o pensamento crítico, a autonomia intelectual e o desenvolvimento de habilidades fundamentais para a vida acadêmica e profissional. Os alunos aprendem a formular perguntas, buscar evidências, analisar dados e comunicar resultados de maneira clara e ética. Além disso, a experiência os aproxima do universo da pesquisa científica, despertando vocações e promovendo um compromisso mais sólido com a produção de conhecimento. Vejo a Iniciação Científica como uma ponte que conecta o estudante ao mundo da ciência e da responsabilidade social”, afirmou.
Ao final, Pedro faz questão de reconhecer quem esteve ao seu lado: “Agradeço à professora Maria Liz, minhas colegas, Manuela Zaidan e Gabriela Letícia, e à LIDIP, a Liga de Doenças Infectoparasitárias da UCB. Eles foram fundamentais para essa conquista.”