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Referência internacional em economia criativa, Ana Carla Fonseca passa a integrar o corpo de professores do Mestrado e do Doutorado Profissionais em Inovação em Comunicação e Economia Criativa da UCB, ampliando os vínculos entre cultura, inovação e desenvolvimento territorial
A Universidade Católica de Brasília (UCB) dá as boas-vindas à economista e urbanista Ana Carla Fonseca, que passa a integrar o corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Inovação em Comunicação e Economia Criativa. Reconhecida internacionalmente como uma das maiores referências em economia criativa e cidades, Ana Carla chega à UCB em um momento histórico para a instituição: o lançamento do 1º Doutorado Profissional em Inovação em Comunicação e Economia Criativa do Brasil.
Com uma trajetória que inclui experiências em mais de 30 países, atuação em organizações como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e uma carreira consolidada na consultoria estratégica na empresa Garimpo de Soluções, Ana Carla Fonseca ressalta que a vivência internacional é fundamental para compreender, de forma mais profunda, os processos de transformação urbana e cultural. “Não adianta só ler sobre um contexto. É preciso vivenciá-lo, conversar com as pessoas, sentir o território. Isso é o que permite pensar estratégias efetivas de desenvolvimento”, afirma.
A especialista destaca ainda a importância das redes de colaboração que vêm sendo tecidas ao longo de mais de duas décadas de atuação e pesquisa. “É essa troca de figurinhas, com pessoas de diferentes cantos do mundo, que alimenta e oxigena nossa capacidade de inovar localmente”, aponta.
Trajetória de fronteira
Para a pesquisadora, sua atuação sempre foi marcada por temas de fronteira e pelo desejo de conectar áreas que, tradicionalmente, são vistas como isoladas. Desde jovem, essa inclinação já se fazia presente: entrou na universidade aos 16 anos, cursando simultaneamente Administração Pública na Fundação Getulio Vargas (FGV) e Economia na Universidade de São Paulo (USP), enquanto estagiava na Cinemateca Brasileira, fazia cursos de arte, estudava línguas e praticava esportes. “Sempre busquei encontrar conexões entre essas linguagens e experiências. A minha preocupação, desde o início, era derrubar barreiras entre o mundo acadêmico, o setor público e a iniciativa privada.”
Essa postura se refletiu na sua carreira. Durante 10 anos, atuou como executiva na Unilever em cargos de liderança em marketing e inovação, com passagens pelo Brasil, América Latina, Londres e Milão. Foi em Londres, no final dos anos 1990, que teve contato direto com a política de economia criativa criada pelo governo Tony Blair, cuja experiência despertou nela o desejo de contribuir para esse tipo de transformação também no Brasil.
“Percebi que o impacto da economia criativa ia muito além da economia: ele transformava a sociedade, a autoestima das pessoas, a projeção internacional das cidades. Quando vi isso acontecendo em Londres e, depois, em Milão, uma cidade que, mesmo sem políticas públicas específicas, respira criatividade. Decidi que queria contribuir com esse processo de forma mais direta no Brasil”, conta.
Foi assim que surgiu a Garimpo de Soluções, consultoria pioneira no país na promoção de pontes entre cultura, economia e desenvolvimento. Na época, entre 2004 e 2005, o conceito de economia criativa ainda era pouco difundido no Brasil e muitas vezes enfrentava resistência, sobretudo fora das áreas da administração e economia. “A cidade foi a plataforma ideal para conectar essas áreas verticais. Em um país como o nosso, majoritariamente urbano, pensar a cidade como eixo criativo é pensar em transformação com base na identidade dos territórios.”
Com esse olhar, Ana Carla desenvolveu a primeira tese brasileira sobre cidades criativas, no doutorado em Urbanismo pela USP, enfrentando, inclusive, o estranhamento inicial de diferentes áreas acadêmicas por propor uma tese interseccional, ancorada em vivências executivas, culturais e urbanísticas. Paralelamente, continuou sistematizando e disseminando conhecimentos por meio de livros, pesquisas e publicações digitais bilíngues ou trilíngues, muitas vezes produzidas de forma independente, para democratizar o acesso ao tema.
Inovação na Pós-Graduação
Sobre sua entrada na UCB, Ana Carla vê uma sintonia clara entre sua trajetória e os princípios do novo programa de doutorado profissional. “Fiquei muito entusiasmada com a proposta do curso, com a ousadia metodológica e com a visão crítica sobre as políticas públicas e o papel da economia criativa como vetor de desenvolvimento”, explica.
Coordenado pelo professor Alexandre Kieling, o curso tem como eixo a complexidade dos territórios criativos e busca conectar inovação, comunicação e impacto social de forma concreta. Ana Carla reforça: “Economia criativa não é algo que se decreta. Ela se constrói no diálogo entre políticas públicas, setor produtivo e pulsões culturais da sociedade”.
Desafios globais
Em sala de aula, Ana Carla aposta em encontros que extrapolam o formato tradicional. “São conversas estruturadas, mas vivas, com alunos que trazem experiências maduras e estão em busca de algo que una propósito de vida e atuação profissional”, relata. Entre os temas que pretende desenvolver estão os desafios globais contemporâneos, como as urgências climáticas, a saúde mental e a crise de repertório, sempre conectando essas pautas com a realidade de territórios urbanos, rurais e periurbanos.
Ela também destaca a importância das “conexões improváveis” como chave para o desenvolvimento. “Precisamos articular saberes, cruzar áreas, trabalhar em rede. É isso que nos permite enfrentar a complexidade do mundo atual.”
UCB criativa
Segundo a professora, a Universidade Católica de Brasília tem um papel privilegiado no fortalecimento da economia criativa no Brasil. “A localização da UCB no Distrito Federal é estratégica. Brasília é um microcosmo do país, além de ser o centro das decisões públicas. Somado a isso, temos um corpo docente e discente diverso, interdisciplinar e atuante em várias regiões. É uma combinação rara e muito potente”, afirma.
Ana Carla também vê na universidade uma ousadia positiva. “Vejo na UCB um frescor de ideias, uma constituição curricular arrojada e uma articulação com outros cursos que só contribui para o avanço dessa pauta no cenário nacional.”
Questionada sobre as competências essenciais para quem atua nos campos da comunicação, cultura e economia criativa, Ana Carla é enfática: raciocínio crítico e repertório. “Não basta ser criativo por ser. A criatividade precisa ter propósito e impacto. Para isso, é preciso exercitar o pensamento crítico, questionar o que nos é apresentado como certo. E também alimentar o repertório, sair das bolhas, buscar referências novas. Sem isso, não há transformação”, conclui.