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Na tarde desta terça-feira (21), a Universidade Católica de Brasília recebeu a pesquisadora Profa. Dra. Tone Kvernbekk, da Universidade de Oslo, da Noruega, em conferência sobre a formação de professores na Noruega, no Congresso Internacional de Internacionalização e Formação de Professores. . A mediação da discussão foi feita pelo professor da UCB Dr. Jenerton Schutz. A programação do evento que perdura até esta quarta-feira (22) pode ser conferida aqui.
Ao expressar estar “honrada com o convite” de participação no evento, sendo a primeira visita à Brasília, a docente norueguesa ressaltou que na Noruega a escolarização e a formação dos professores são interesses nacionais e que possuem conflitos de interesses, propostas e perspectivas. “Há risco nas escolas e na formação de professores. No meu país, não há muita liberdade na formação dos professores, que são decididas pelo parlamento”, apontou Tone Kvernbekk.
De acordo com a pesquisadora, a formação dos professores na Noruega iniciou com seminários, direcionados a esse público alvo, em 1826. “Daqui a dois anos, será o aniversário de 200 anos dessa iniciativa. A primeira lei sobre a formação de professores foi aprovada 1890 pelo parlamento. Depois, ocorreram várias pequenas e grandes reformas que os políticos do país decidiram, considerando que foram sábias, necessárias, desejadas, corretas, ou algo do gênero”, indicou Tone Kvernbekk. Para ela, algumas reformas têm a ver com questões estruturais, como colocar a formação dos docentes dentro da universidade.
Mudanças
Ao observar tendências gerais na educação na Noruega, desde 1826, Tone observa que a formação de professores está se tornando mais longa, em termos de duração. Em 1826, ocorria em dois anos, e, atualmente, em cinco anos. “Em 2017, o nosso parlamento decidiu que deveríamos ter mestrado com a duração de cinco anos. Neste momento, só duas turmas se formaram nesse mais recente processo de formação de professores. A terceira turma se formará em junho deste ano. Nesse tempo, poucos professores noruegueses têm educação totalmente aprovada pelo governo. A maioria tem três ou quatro anos de formação”, explicou.
Segundo ela, outra tendência é a substituição de professores generalistas por especialistas, cenário altamente debatido na Noruega. “Antigamente, quando me formei, todos os professores podiam dar aula de todas as matérias. A Noruega precisava de que professores dessem aula de todas as matérias. Com essa mudança gradual, direcionada à especialização, aparece um novo entendimento do professor, do que ele é ou do que ele deveria supostamente ser”, acrescentou.
Ao expor que nos anos anteriores os professores tinham formação ampla, voltada ao desenvolvimento dos alunos, Tone considera que a configuração atual engloba um papel mais estreito e definido de passar conhecimento aos alunos. “Não há duvida de que temos o desenvolvimento muito significativo para uma metodologia de resultados. Há ênfase mais forte em resultados e avaliações. Os professores são diferentes entre si e o que eles pensam sobre essa questão varia. Alguns lamentam esse estreitamento do papel do professor. Outros aplaudem e acham que é uma coisa muito boa, de passar conhecimento aos pupilos”.
Desafios
Durante a conferência, Tone Kvernbekk também ressaltou as problemáticas no campo da educação durante a pandemia do Coronavírus. “As escolas primárias e secundárias norueguesas estiveram totalmente fechadas, assim como todas as instituições de ensino, incluindo as universidades. Todo o ensino foi dado de forma online. As crianças e adolescentes fizeram trabalhos online. O lockdown teve efeito significativo, já que o ensino foi digitalizado. Nos comunicávamos com os professores e alunos por uma tela.”
De acordo com ela, após a pandemia, aumentaram os caos de recusa à ida à escola. “Isso tem a ver com estresse e nível de ansiedade. Houve aumento em relação à depressão das crianças, por se sentirem sozinhas, por não terem amigos e aparecerem mais casos de bullying. E os alunos por terem ficado apenas em casa não estavam mais aprendendo a colaborar.”
Ao apresentar esse panorama, a pesquisadora indicou que o aparecimento da inteligência artificial foi como um “grande tsunami”. “Não estávamos preparados para tudo isso. Estamos com dificuldade para lidar com a IA nas escolas e universidades”, ressaltou ao citar movimentos que ocorrem atualmente na Noruega para banir os celulares. “A formação de professores está correndo ao máximo possível para chegar à mesma velocidade da IA. Hoje, mais pessoas estão desistindo das turmas. Os alunos que estão sendo formados para trabalhar como professores não estão sabendo lidar mais juntos”, analisou.