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O Papa Francisco fará sua primeira viagem pastoral a um país. Depois de séculos a frente do rebanho da cristandade católica, um papa extra europeu é o primeiro latino americano da história da Igreja. Ele chega ao Brasil, país mergulhado em uma imensa decepção com a democracia e ao mesmo tempo acordando para uma nova postura política, ainda indefinida, que acaba de nascer em meio a juventude. E para quem ele irá falar? Para os jovens. Será a XXVIII Jornada Mundial da Juventude, Rio 2013, que poderá ser acompanhada, veja você, online pelo mundo inteiro. E inspirada no evangelho de Mateus, chamará tantos outros para serem discípulos.
São cinco meses, desde que, diante de uma Praça de São Pedro lotada e surpresa, surgiu Jorge Mario Bergoglio, argentino acostumado ao transporte público em Buenos Aires, assumindo o nome de Francisco e disse mansamente: “Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui!” O nome escolhido é símbolo cristão de justiça social, amor à pobreza e simplicidade. O interesse cristão católico está agora intensamente voltado para a solidariedade. Então não adianta dizer que ele é “fofo”, como dizia outro dia uma jovem em uma imediata reflexão. Faça uma pesquisa em torno de si. Muitos já dirão: Ninguém mais se interessava pelo Papa, ele mudou isto. Ou: Ele já cortou muitas pompas que eram desnecessárias na Igreja. E ainda: Esta aí! Ele é muito próximo do povo, até usa o Twiter. Será ele um reformista? Arrematou um sábio acostumado a teologia pastoral.
O nosso modo brasileiro de ser, fazer ou pensar, e isto também enquanto juventude, ainda não poderá ser modelo para o mundo, mas certamente esta será uma grande oportunidade de um Papa e uma juventude, em um interessante processo de amadurecimento, ao sabor de grandes manifestações, talvez manchadas por alguns protestos violentos, mostrarem ao mundo que ele precisa ser repensado: o lucro, a violência, o narcotráfico, a corrupção e sobre tudo a educação como uma forma profunda de modificar o ser humano.
O que esperar deste Papa no Brasil? A voz desta juventude brasileira, fortalecida por tantos jovens peregrinos advindos do mundo inteiro, que aqui se achegam, ganhará a oportuna contribuição de uma voz cidadã, o Papa, que estará igualmente se manifestando em forma de anúncio de Boa Nova. Filho da latinidade, acostumado as também históricas manifestações argentinas, que não diferente de nós brasileiros, também enfrenta e enfrentou os mesmos desafios sociais, pobreza, ditadura militar e que caminha em busca uma nova visão de mundo. Você me pergunta o que acontecerá? Ah, esta será uma grande oportunidade com o mesmo encanto do sermão de um Jovem Galileu que modificou para sempre o mundo num discurso chamado, o Sermão da Montanha. E que mesmo depois de séculos é tão atual em continuar ecoando: “Bem aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino dos Céus”. O Papa estará numa montanha e esta montanha será o Brasil. E o Brasil, assim como a Igreja, precisa de novas ideias. Seja bem vindo, Francisco!
Por Paulo Bosco
* Professor Paulo Bosco é Bacharel e Mestre em Direito Canônico pela Universidade Gregoriana de Roma. Possui graduação em Teologia – Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília, graduação em Filosofia pela Faculdade Eclesiástica de Filosofia João Paulo II e, atualmente, é professor titular da Universidade Católica de Brasília. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Direito Canônico.