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2016
mar
17

UCB recebe Marcos Losekann para evento universitário

Com quase 32 anos de carreira – 13 só como correspondente internacional para a Rede
Globo – o jornalista Marcos Losekann foi um dos convidados do segundo dia de palestras do The Wall Break, evento realizado pela agência júnior Matriz Comunicação do curso de
Comunicação – Publicidade e Propaganda. Em um bate-papo descontraído, ele falou sobre
o jornalismo instantâneo, as praticidades e os perigos da internet, compartilhando com os e
studantes do curso de Jornalismo da Universidade Católica de Brasília algumas de suas
experiências.

O repórter começou a palestra contando que, no início da carreira o processo de apuração
e produção das matérias era um pouco mais complicado. “Os novos jornalistas estão
chegando ao mercado em um momento relativamente fácil. Nós começamos em uma fase
de migração, em que tudo era bem mais difícil. Eu me lembro que os aparelhos celulares
eram gigantescos e não aguentavam mais do que 20 minutos de ligação. Era preciso falar
tudo de uma vez ou ser bem rápido na hora de trocar as baterias”, comentou.

Para o profissional, as revoluções tecnológicas – do pager aos adventos da internet –
possibilitaram velocidade aos jornalistas. “Estamos vivendo na era do jornalismo
instantâneo. A internet permite que a gente faça muita coisa bacana e gera uma
concorrência louca, uma corrida para ver qual veículo de comunicação informa primeiro.
Mas é preciso tomar cuidado, porque também possibilita a divulgação de muita besteira.
Tenho visto vários ‘jornalistas’, entre aspas, escrevendo mentira por aí. Informações que
são compradas pela população como algo autêntico. É que nem aquela frase de Goebbels:
uma mentira contada várias vezes acaba virando verdade”, alertou.

Losekann afirmou, ainda, que tanta velocidade e as facilidades de se obter um furo podem
acabar prejudicando: “Antigamente, dar um furo era prazeroso para o jornalista. Ser o
primeiro a soltar uma informação exclusiva era algo de destaque. Hoje, apesar de tudo ser
bem mais fácil, os riscos são maiores”.

O repórter falou também da importância de um curso acadêmico e das consequências para
quem cometer uma barriga, jargão jornalístico que significa erro, deliberadamente. “A
universidade é um laboratório de ideias que vai te dar desde a noção mais básica até a
mais avançada de o que é ser um jornalista. Como é uma profissão em que você está
sendo policiado o tempo inteiro, até mesmo pelos colegas de trabalho, um erro intencional
pode te queimar no mercado”, aconselhou.

Antes de se aventurar nessa instantaneidade do jornalismo, é preciso tomar cuidado com
alguns aspectos. Losekann afirmou que, na área, o terreno da criatividade e do ridículo
fazem fronteira e não há um muro de separação. “É preciso tomar cuidado para não querer
facilitar demais a linguagem e acabar falando alguma coisa que ofenda ou não tenha
sentido. Dependendo do assunto, não dá para brincar”, advertiu.

Fora daqui

“Eu sei que é um assunto que interessa a muitos aqui e a primeira dica que eu dou é: a
gente não deve morar nem tão perto e nem tão longe dos pais. Nem tão perto que eles
possam ir te visitar de chinelinha e nem tão longe que eles possam ir de malas e ficar
meses”, brincou. Para ele, a oportunidade de morar por tanto tempo em Londres trouxe
experiências excepcionais. “Eu fui o único que ficou tantos anos lá fora e voltou a morar no
Brasil. Todos os outros se acomodaram e optaram por ficar. É difícil porque você se entrega
a nova comunidade, cria raízes. Eu fui um dos responsáveis por comandar a base de
jornalismo da Rede Globo em Jerusalém. Antes, eles mandavam os repórteres e isso
gerava custos altíssimos”, contou.

Losekann lembrou, ainda, que depois da Guerra do Golfo, em 2003, as inovações
tecnológicas também ajudaram os enviados especiais: “Ficou tudo extremamente
instantâneo. Usar o kit correspondente, um programa que manda matérias televisivas
inteiras em uma velocidade surreal, ficou ainda mais fácil”.

Outra cobertura que marcou a carreira do jornalista foi a morte do terrorista Osama Bin
Laden, em 2011, no Paquistão. “Eu lembro que era feriado em Londres e as embaixadas
estavam fechadas, então, ninguém estava conseguindo tirar o visto para viajar. Foi aí que
eu lembrei de um engenheiro paquistanês que era responsável por cuidar da nossa base.
Ele já havia me dito que o pai dele era muito importante no país e pedi para que ele
conseguisse isso para que pudéssemos viajar. O pai dele conseguiu o visto e 24 horas
depois da morte do Bin Laden, a gente já estava na cidade. Fomos a primeira TV ocidental
a chegar no local”, relatou.

Experiências

Além de revelar rotas de tráficos de drogas e denunciar casos de improbidade
administrativa e crimes ambientais, o repórter também cobriu cinco guerras. “A minha
geração cresceu acompanhando a CNN e vendo o estaque que os correspondentes de
guerra tinham. Então, quase todo mundo queria cobrir os conflitos. Eu já vivenciei uma do
início até o final; passei 33 dias com apenas dois banhos e as mínimas condições. Hoje, eu
olho para trás e vejo que eu queria mesmo era ter sido um correspondente de paz”, revelou.

Em entrevista para a Olfato, Losekann disse que as guerras não foram o que mais marcou
sua trajetória como jornalista. “Por incrível que pareça, não foi nada fora. Foi uma cobertura
dentro do Brasil. Na época, eu morava em Brasília e fui à Amazônia para cobrir a queda de
um avião de garimpeiros no meio da selva. O problema é que o governo da Venezuela que
havia derrubado o avião. Eles alegaram que foi falta de combustível. E foi mesmo. Eles
atiraram no tanque, o combustível vazou e o avião caiu. Foi uma matéria muito difícil porque
nós ficamos indo e vindo do local, em 1992, uma época em que as baterias não eram tão
potentes e tinha que gravar tudo de uma vez. Foi um marco na minha vida porque teve
todos os ingredientes: investigação, perigo, perseguição e riscos de contaminação”, contou.

O jornalista disse, ainda, que nunca se preparou mentalmente para nada e que é preciso
gostar muito para se tornar um correspondente. “Foi tudo na raça, no instinto. Tem que
amar a editoria de internacional porque é uma área bem complexa. O mundo é o seu
assunto principal. Ah, e é necessário conhecer outros idiomas também. O inglês, por
exemplo, é fundamental. Quem tem inglês fluente consegue se virar muito bem”, finalizou.


Publicado por Tiago Mendes

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