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CARTA PASTORAL DO BISPO DIOCESANO DE COLATINA
Introdução
Hoje, festa da Apresentação do Senhor, celebro 14 anos de minha ordenação episcopal. Tenho presente o medo que me invadiu ao receber a carta assinada pelo Santo Padre, o Papa João Paulo II, convocando-me para o episcopado. Resisti assustado. O cardeal Dom Serafim Fernandes Araújo, em sua sabedoria, me tranquilizou: “A graça de Deus para este ministério é muito grande. Não tenha medo. É Ele quem age”. Mesmo considerando minha fraqueza, respondi “sim”, confiado tão somente nAquele que me chamou. A constatação é sempre a mesma: Ele, o Senhor, age de maneira admirável mesmo com instrumentos não admiráveis. Se algo fiz de bom foi porque somente Ele é bom. Poderia ter sido muitíssimo melhor se não houvesse colocado tantas resistências. “Demos graças ao Senhor, porque eterna é a sua misericórdia” (Sl 1180).
Agradeço a Deus pelo presbitério que me rodeia e pelo povo santo que me fortalece com sua oração, me alegra com o testemunho de sua fé e me ampara com seu carinho.
Exigências de nosso Projeto de Evangelização
Há dois anos, buscamos reunir nossas forças para colocar em prática o Projeto Diocesano de Evangelização, que nós mesmos traçamos para nossa Igreja Particular de Colatina. Restam-nos mais dois anos para nos aproximarmos, o melhor possível, do ideal que visualizamos até 2012: “Ser uma Igreja discípula missionária de Jesus Cristo, com estruturas integradas, ágeis e flexíveis, atuante nas realidades emergentes, sobretudo na exclusão social, através de agentes pastorais capacitados”. Muito já foi feito. Muito resta por fazer. Temos que acelerar.
O centro de nosso projeto não pode ser outro a não ser JESUS CRISTO. Ele é o Reino de Deus no meio de nós. Ou nos encantamos por Ele e nos deixamos embeber dEle ou nada feito. Quem, pela fé, o reconhece como o único Salvador e Redentor percebe em si e na comunidade de irmãos e irmãs algo totalmente diferente. Vai-se moldando em nós o jeito de ser discípulo. Como os primeiros discípulos após o Pentecostes, tornamo-nos naturalmente e ardorosamente missionários de sua Boa Nova.
Às vezes, me dá a impressão de que fazemos de Jesus Cristo um Deus entendido pela nossa razão, mas que não toma posse de nosso coração. Se nos relacionamos com Ele na Eucaristia ou em nossas orações, é para que suavize nossos males, resolva nossos problemas. Como bispo ou padre, podemos facilmente nos tornar frios administradores destes mistérios divinos ou organizados articuladores da ação pastoral. Até podemos aparecer como realizadores de obras extraordinárias. No fundo, no fundo, falta-nos o amor. Sino que faz muito barulho e nada mais (cf 1Cor 13). Se a nossa Igreja Particular, nossas comunidades e nós mesmos não sentirmos a forte exigência de anunciar Cristo a todos aqueles que encontramos, a primeira interrogação que deveríamos fazer é: “Somos de fato discípulos de Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo?”.
Perguntas
DISCÍPULOS
Podemos reconhecer em nós, ao menos em processo, a certeza de Paulo: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim”? Como estamos valorizando, em nosso dia a dia, a Palavra de Deus (Leitura Orante), a Eucaristia, o Sacramento da Reconciliação, o Domingo, Dia do Senhor?
DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS
Como Paulo Apóstolo, podemos perceber aceso em nós um impulso missionário que nos impele a dizer: “Ai de mim se não evangelizar”? (1Cor 9,16)
OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES
Já podemos perceber que nossa Igreja está se enraizando nos lugares mais pobres e entre os pobres?
REALIDADES EMERGENTES
Atuamos com criatividade evangelizadora nas realidades emergentes (dependentes químicos, violência, internet, urbanização, meio universitário)?
INVESTIMENTO NA CAPACITAÇÃO DOS AGENTES
Investimos o suficiente na capacitação de nossos agentes pastorais? (talvez tenhamos gastado muito mais em obras físicas do que na formação)
Essas são perguntas que devem ser respondidas com sinceridade e humildade e que tocam o cerne de nosso Projeto de Evangelização.
Prioridades para 2011
Nosso Projeto de Evangelização, com os 10 eixos programáticos, deverá ser sempre a referência para qualquer revisão e planejamento de comunidade, de pastorais, de movimentos, de paróquias, de diocese. No meu coração de pastor, tendo sempre acompanhado as reflexões do Conselho Presbiteral e do Conselho Diocesano de Pastoral, identifico para o período de 2011-2012, dentro de nosso Projeto Diocesano de Evangelização, as seguintes prioridades:
1. Formação do DISCÍPULO através do aprofundamento da PALAVRA DE DEUS
O subsídio indispensável é a Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Verbum Domini” de nosso Papa Bento XVI. Esse documento deverá ser estudado, mastigado e refletido para que possa se traduzir em ações práticas (Leitura Orante, Cursos Bíblicos, Retiros, Círculos Bíblicos, Ministério da Palavra, de Leitores).
2. Formação do discípulo MISSIONÁRIO
Implantação ou solidificação da Infância, Adolescência e Juventude Missionária em todas as paróquias. Implantação da Comissão Missionária Paroquial (Comipa). Realização criativa de missões populares.
3. PASTORAL VOCACIONAL
Reativar em nossa Diocese (paróquias, comunidades, pastorais e movimentos) uma cultura vocacional que envolva todas as dimensões. A Associação Amigos do Seminário é um caminho que deu certo e precisa ser retomado com força e corresponsabilidade.
Essas três prioridades deverão ser trabalhadas à luz da OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES E JOVENS. Assim,
• a Palavra de Deus terá ressonância especial entre os pobres e jovens (cursos, círculos bíblicos, ministérios);
• o dinamismo missionário se traduzirá em uma presença inovadora nos bairros de periferia (organização de pequenas comunidades, grupos de reflexão, novos ministérios);
• a cultura vocacional será consequência natural de um trabalho bem articulado e dinâmico com a infância, adolescência e juventude missionária e o reavivamento das pequenas comunidades eclesiais, multiplicadas especialmente nas regiões mais pobres.
Ação das Áreas Pastorais
Nosso Projeto de Evangelização colocou como meta ser uma Igreja com estruturas integradas, ágeis e flexíveis. Daí a importância que adquire o fortalecimento da área pastoral. No último Conselho Diocesano de Pastoral, cada área procurou organizar suas prioridades de acordo com seu perfil. Assim:
• Área BR-101 Norte: Pastoral Urbana, Pastoral da Juventude, Pastoral Familiar e Formação Bíblica;
• Área BR-101 Sul: Formação Bíblica, Pastorais Sociais, povos indígenas e dependentes químicos;
• Área de Colatina: Pastoral Urbana, formação de lideranças, reestruturação das pastorais em nível de área;
• Área Ita: Dimensão Rural e Dimensão Missionária;
• Área do Café: Formação Bíblica, Dimensão Rural, Família e Juventude.
Tendo diante dos olhos constantemente as exigências de nosso Projeto Diocesano de Evangelização, focando estas prioridades e deixando-se iluminar pela opção preferencial pelos pobres e jovens, cada área pastoral construirá um projeto simples e possível que responda às características da própria área pastoral.
Apoio institucional
Duas instituições diocesanas se apresentam como uma ajuda qualificada para alcançarmos nossos objetivos:
1. Cáritas Diocesana – É o braço organizativo mais bem estruturado para facilitar a presença entre os mais pobres, a busca de recursos e a efetivação de parcerias. O ideal seria que cada paróquia tivesse ao menos uma obra orientada pela Cáritas Diocesana e que deve se tornar a Cáritas paroquial.
2. Iesis (Instituto Espírito Santo de Inovação Social) – Foi constituído para ser uma presença qualificada no diálogo transformador com a sociedade. Quatro linhas de ação estão sendo desenvolvidas pelo Iesis:
• Curso para lideranças jovens rurais em parceria com o Sebrae;
• Curso para lideranças de associações de bairro e outras;
• Curso para a formação de participantes nos diversos Conselhos de âmbito municipal;
• Curso para educadores visando ao aprofundamento dos valores éticos e cristãos.
Presença de Maria
Todos sabemos da importância de Maria no Plano de Salvação. Deus Pai a escolheu como a mediadora para que seu Filho se tornasse carne no meio de nós e se fizesse nosso irmão através da ação de seu Espírito. Não existe Igreja sem Maria. Assim o quis seu Filho Jesus. Jamais construiremos uma Igreja de discípulos missionários sem sua ajuda. Por isso, a escolhemos como padroeira de nossa Diocese sob o título de Nossa Senhora da Saúde. Tal escolha se reveste de um significado espiritual muito forte. O esforço de valorizar cada dia 21 de mês como afirmação de nossa comunhão diocesana ao redor da Mãe comum e o envio do resultado da coleta deste dia para as obras do Santuário são sinais concretos muito apreciados por nosso povo. As romarias e a visita da imagem às paróquias são também caminhos que ajudam o desenvolvimento de uma espiritualidade diocesana atenta à orientação dela: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
Estimados irmãos e irmãs, neste dia em que Jesus é apresentado e oferecido a Deus no Templo de Jerusalém pelas mãos de Maria e José, coloco a minha vida, a dos presbíteros, diáconos e seminaristas, religiosos e religiosas e todo o povo santo de Deus nas mãos carinhosas dela, Senhora da Saúde, para que molde nosso coração como discípulos missionários de seu Filho Jesus.
Deus abençoe a todos nós.
Com o abraço fraterno do irmão em Cristo Jesus e bispo,
Dom Décio Sossai Zandonade