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Mais do que uma questão de economizar os recursos hídricos, a crise no abastecimento de água envolve a sociedade em geral e a preocupação com as próximas gerações. Para propor sugestões acerca do tema, especialistas de diferentes áreas da Escola de Exatas, Arquitetura e Meio Ambiente discutiram sobre a importância da água em diferentes situações. A mesa redonda “Água: diferentes olhares” reuniu estudantes, professores e convidados, para uma Aula Magna, no Auditório do Bloco Central, na data em que é comemorado o Dia Mundial da Água, 22 de março.
O diretor da Escola de Exatas, Arquitetura e Meio Ambiente, Douglas José da Silva, avalia que o tema é essencial para a vida vegetal, animal e humana. Segundo ele, a previsão da Organização das Nações Unidas (ONU) é de que, até 2030, a demanda por água no mundo aumente em 50%. “É um problema global e, nós, como universidade, temos a obrigação de apresentar uma reflexão sobre o assunto do ponto de vista de cada curso”. A UCB participa ativamente junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, com membros nos principais conselhos do Distrito Federal, como o Conselho de Recursos Hídricos do Distrito Federal (CRH/DF), o Fundo Único de Meio Ambiente (Funam/DF) e o Centro de Excelência do Cerrado (Cerratenses), além de diversas ações de extensão.
Painel: água, diferentes olhares
A abertura da discussão ficou por conta do professor Diego Nolasco, do curso de Física, que iniciou uma abordagem sobre o ciclo da água, com nascentes, rios, mares, condensação e chuvas. No planeta, há 97,5% de água salgada, então, sobra apenas 0,007% de água potável existente no mundo. Ao invés de transportar água para a Estação Espacial Internacional, a solução encontrada foi reciclar 65% da água.
Havia a concepção de que a natureza era responsável por renovar a água, mas, hoje, é preciso pensar em como ajudar a natureza. “O número de pessoas é grande e a água é finita, apesar de ser um recurso renovável. Isso significa que temos que nos colocar numa posição ativa ligada à humanidade”. No sertão do Ceará, em Juazeiro do Norte, três estudantes criaram um projeto de reúso da água chamado “Projeto Água Renovada”. Ao contar a história desses pequenos cientistas, o professor Diego Nolasco disse que a responsabilidade da água é de todos.
A professora Bárbara Medeiros Fonseca, do curso de Ciências Biológicas, apresentou a imagem dos reservatórios do Descoberto e o de Santa Maria, que estão com menos de 50% da capacidade, sendo que, no ano passado, estavam com mais de 100% do volume. “O bioma do Cerrado é um lugar de pouca água, apesar de o mapa hidrográfico mostrar variados rios e nascentes, que querem água em quantidade adequada”. A professora Bárbara defendeu um olhar biológico sobre a água, que é mais do que um recurso hídrico, mas um ecossistema utilizado pelo Homem e por outras espécies. “A vegetação nas margens garante que a chuva infiltre o solo e alimente o lençol freático para abundante quantidade de água”, refletiu.
Do ponto de vista da química, a água é uma molécula de H2O e possui estados físicos distintos. De acordo com a professora Silvia Keli de Barros Alcanfor, a água possui características elétricas, com cargas positivas e negativas, que são os polos. “O desafio de prover água potável é desenvolvido por químicos que atuam no tratamento da água”.
A área de Engenharia Civil detém duas visões sobre a água: um recurso natural protegido pela Política Nacional do Meio Ambiente e a água como um recurso hídrico, gerador de riquezas e oportunidades. A professora Beatriz Rodrigues Barcelos atua com pesquisas ligadas à qualidade da água e destacou a importância da redução do consumo no contexto em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de até 110 litros habitantes/dia. “A média de consumo no DF é de 150 litros habitantes/dia. A água é fundamental para todo tipo de vida no planeta, por isso precisamos saber usar as tecnologias e as ciências para enfrentar a crise de forma mais amena”. A Lei das Águas completou 20 anos e aborda a gestão compartilhada dos recursos hídricos, com papéis determinados para os diferentes atores, como governo, universidades, indústrias e usuários.
No cenário da Engenharia Ambiental e Sanitária, o professor Marcelo Resende apontou as principais causas que levaram à crise hídrica. Segundo ele, a primeira delas é a climática, devido a precipitação abaixo da média. “É uma crise de demanda e oferta de água tratada à população. Temos dois grandes reservatórios responsáveis pelo abastecimento e também tivemos um aumento populacional. A oferta permanece a mesma desde a década de 70, por isso os reservatórios diminuíram o volume”. Uma das soluções, segundo ele, seria utilizar a água do Lago Paranoá, que poderá ser distribuída à população próxima.
A professora Yara Regina Oliveira, do curso de Arquitetura e Urbanismo, fez uma abordagem ligada à água como polivalência da vida numa abordagem da relação do homem com o rio. “O rio é sacralizado com condição de higiene do local e as casas se instalavam perto dos rios, que são fonte de vida. Neste sentido, podemos perceber que o rio é um instrumento. A cidade é afetada pelos cursos da água, para construir suas vias de circulação urbana e indústrias, com a aparição de barragens, usinas hidrelétricas e também agroindústrias”.
Para o campo da Matemática, é necessário compreender os principais dados estatísticos sobre a água e sua quantidade disponíveis para uso e consumo. “A água mostra um cenário de desigualdade, quando comparamos o continente africano e a América, por exemplo. Ela gira em torno de dados estatísticos em matemática. É a linguagem que as pessoas usam para comprovar suas teorias. Será que as pessoas entendem o que representa o gasto de 110 litros por dia? Tem pouca água disponível no mundo. Somente ao entender essa dimensão é possível ter noção do desperdício. O governo, a população e a agricultura devem agir de forma sustentável nesse processo”, argumentou a professora Adriana Barbosa de Souza.