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2024
jun
11
Voluntariado

Egressas de Enfermagem fazem trabalho voluntário no RS

Diante da tragédia climática no Rio Grande do Sul, as egressas do curso de Enfermagem da Universidade Católica de Brasília (UCB), Anne Rafaela, Gabrielle Medinas e Luciana Lobo decidiram atuar como voluntárias, na tentativa de amenizar o sofrimento das vítimas. Elas embarcaram em um avião cargueiro da Força Aérea Brasileira (FAB) no dia 16 de maio e ficaram 15 dias no bairro Mathias Velho, em Canoas.

O volume de chuvas na cidade ultrapassou os 300 milímetros, o que equivale a mais do que a soma das médias de abril e maio. Quase dois terços da cidade ficaram alagados na fase mais crítica. Pelos cálculos da prefeitura, mais de 180 mil moradores foram atingidos pelas cheias. Canoas tem 347.657 habitantes, segundo o IBGE.

Quando as enfermeiras formadas na Católica no último semestre chegaram à cidade, ficaram chocadas com a situação. A água já havia recuado um pouco, mas boa parte da cidade ainda estava alagada. Blindados das Forças Armadas circulavam pelas ruas em busca de pessoas e animais que precisavam ser resgatados. Havia muito lixo, entulho, lama, restos de móveis e todo tipo de detritos. O mau cheiro era indescritível.

Elas ficaram alojadas na Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). “Eles emprestaram colchões para a gente dormir no chão. Para as vítimas, eles doavam os colchões”, conta Anne Rafaela, de 22 anos. No início elas ficaram acomodadas junto com as doações que chegavam de várias partes do Brasil e até do exterior. Depois, foram transferidas para outro prédio, mais perto de onde estavam os desalojados e desabrigados.

A ideia inicial era atuar apenas como enfermeiras. Mas ao chegar, elas se depararam com um cenário inesperado e levaram um choque de realidade. Havia muito o que fazer e não se podia escolher que trabalho desempenhar. “A gente fez de tudo um pouco: “ajudamos desde os primeiros socorros, na triagem, distribuímos marmitas, separamos roupas, distribuímos água”, enumera Anne Rafaela. Mas não foi só isso. Ajudaram também a descarregar caminhões, com a limpeza e cuidaram dos animais. Tudo que precisava ser feito, fizeram.

É lógico que a contribuição maior foi na área da saúde. Elas ficaram na tenda de resgate, aonde chegavam as pessoas recém-retiradas de áreas alagadas. “As pessoas que saíam da água vinham para a gente, a gente prestava os primeiros atendimentos e, dependendo da situação, eram levadas pelo SAMU (para unidades médicas), ou então ficavam aguardando algum parente buscar”, explica Luciana Lobo, de 23 anos. Quem não tinha para onde ir, permanecia alojado.

Muitas vítimas chegavam bastante debilitadas. Luciana conta a história de um senhor de 64 anos que se recusava a ser resgatado, por medo de ter a casa saqueada. Ele tinha uma úlcera no fígado e ficou ilhado por quatro dias, sem medicamento. “Ele chegou para a gente com hipotermia, bem abalado. A gente perguntava para ele o porquê de ele ainda estar naquela situação e ele só falava que (a casa) era a única coisa que ele tinha, que não podia abrir mão porque já tinha perdido muitas coisas na vida.”, relata.

Apesar do cenário caótico e das dificuldades enfrentadas pelos canoenses, as ex-estudantes da UCB encontram aspectos positivos nessa situação. A solidariedade e a entrega dos voluntários as comoveram. Gabriele ficou marcada, principalmente, pela história de um rapaz chamado Bruno. Ele é uma das vítimas das inundações. Perdeu a casa e todos os pertences. A família se refugiou em outra cidade, mas “ele resolveu ficar para ajudar outras pessoas. Mesmo vulnerável a tudo o que estava acontecendo ele preferiu se doar, entregar mais dele para as outras pessoas”.

O que fez valer a pena essa experiência de voluntariado foi ver que o esforço gerou resultados. “É muito bom ver as pessoas se reencontrando”, relembra Luciana. “As famílias que, por um acaso, tiveram que sair de casa separadas e se reencontraram em abrigos. As pessoas, quando vão em abrigos de animais e encontram seu ‘petzinho’. É muito emocionante.”

Já Anne trouxe mais do que as lembranças. Ela adora animais. Cuidou de cachorros, gatos e até galinhas. Anne acolhia os bichos, limpava, secava, aquecia com mantas térmicas e encaminhava para os cuidados de médicos veterinários. “Eu até trouxe uma cachorra velhinha para ela ter um lar temporário” até ser adotada definitivamente.

Muitas pessoas ainda precisam de ajuda no Rio Grande do Sul. Faça sua doação para a campanha da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pelo Pix 33.685.686/0010-41.

Publicado por Samuel Siqueira

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