//
“Uma necessidade da alma”[…] “As vozes do mundo que nela ressoam”[…] Os sentimentos que ela carrega, inspira, reflete: a Poesia. No seu dia, celebrado mundialmente em 21 de março, o curso de Letras da Universidade Católica de Brasília (UCB) promoveu a roda de conversa: “Poesia para quem gosta de poesia”. O evento mexeu com a sensibilidade de cada participante em uma manhã dedicada a essa arte.
Professores e estudantes trouxeram seus poemas preferidos, compartilharam poesias que marcam suas vidas, por meio de relatos, obras comentadas, versos, poemas longos ou curtos, lidos, sentidos e ouvidos durante o evento. A sensibilidade foi despertada e compartilhada com quem ama a poesia e seus autores.
Durante o evento grandes poemas foram memorados: Carlos Drummond de Andrade, Otávio Paz, Manoel de Barros, Fernando Pessoa e outros autores renomados. O espaço também foi destinado à apresentação de poemas dos estudantes do curso de Letras. William Farago Ramalho, 1º semestre, e Fábio Ramos Paz, 7º semestre, foram ganhadores do concurso de poesia realizado previamente, os alunos apresentaram suas inspirações durante o evento. “Eu realmente gosto da poesia porque acredito que ela liberta. Ela tem um poder sobre as pessoas, não somente para quem escreve, mas para quem lê ou escuta e assim por diante”, afirmou Fábio. O estudante, admirador de Edgar Allan Poe, compartilhou o poema de sua autoria: “Por favor, não me deixe”, escrito em uma época triste de sua vida, mas memorado como algo bom que ficou eternizado no papel. Concordando com a opinião do colega, William Farago afirmou que na poesia, os poetas expressam a simplicidade das coisas. “O poeta absorve os sentimentos do mundo com a alma e transborda isso no papel”, reforçou.
Contente desta primeira realização, que pode ser repetida nos próximos anos, a coordenadora do curso de Letras da UCB, professora Livila Pereira Maciel Cornelio Rosa, ressaltou a importância desse evento para o curso, aberto para a UCB, celebrando o mês da poesia e ao centenário de nascimento de Manuel de Barros. Para ela, foi uma boa oportunidade para colocar a poesia em destaque “durante toda a vida”. “Ela nos traz a existência humana”, afirmou declamando parte da obra Otavio Paz, o Arco e a Lira. “[…] o poema é um caracol onde ressoa a música, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. O poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana”, concluiu.
Confira os poemas* vencedores deste primeiro concurso e que foram apresentados nas redes sociais da UCB, em comemoração ao Dia Mundial da Poesia, 21 de março:
Em qualquer porto
(Paulo Henrique da Silva Santos)
No fim de tarde em qualquer porto
Assim tão perto a solidão
Em qualquer parte do horizonte
O espaço espalha a viração
Sob o sol já tíbio e quase morto.
Em qualquer porto o fim de tarde
No espaço espalha a viração
No horizonte em qualquer parte
E assim tão perto a solidão.
Assim tão perto em qualquer parte
O olhar suspenso e quase morto
E o espaço espalha a solidão
Em qualquer porto, em qualquer parte
Em qualquer perto, em qualquer porto
Um olhar já tíbio e a viração.
Em qualquer parte do azul
Que cai das folhas da amplidão
O sol tão frágil ainda arde.
No fim de tarde o pensamento
Em qualquer passo, em qualquer porto,
Em qualquer longe ou qualquer perto
Num passo lasso, num amplexo
Alcança o sol já quase morto … a solidão.
No fim do dia, em qualquer porto
O azul se lança de qualquer parte do horizonte
E azuleja o fim de tarde quase morto.
No fim de tarde o olhar incerto e absorto
Procura no horizonte tão tranquilo e tão distante
Uma réstia de luz que no espírito ainda arde
Enquanto ondas quase soltas, quase mortas
Debruçam-se sobre a dureza dos rochedos
E o pensamento se encharca de incerteza.
Por favor, não me deixe
(Fábio Ramos Paz)
Por favor, não me deixe.
Eu te amo e não nego
Que só de pensar em perdê-lo, me desespero.
Que cada minuto sem teus lábios
É uma visita ao inferno
E uma conversa com o Diabo.
Por favor, não me deixe.
Quero morrer em seus braços
Olhando os seus traços,
Aqueles que um dia me ensinaram a viver
E também aos quais
Admiraria ao falecer.
Por favor, não me deixe.
Se amar é sofrer,
Torturado quero ser.
Se amar é matar,
Uma chacina acontecerá.
Se amar é morrer,
Os fungos já começaram à minha pele corroer.
Tudo por você.
Tudo por você.
Por favor, não me deixe.
Quando te vejo, te abraçar é meu desejo.
E rapidamente percebo
Meu coração clamando por um beijo.
Pois te amar e te adorar
É a verdade que a ti
Minhas palavras vêm anunciar.
Realmente não me importo
Onde estás ao certo.
Já que, por ti,
Caminhando vou até ao inferno.
Sobre aquele que escreve, é forte o amor deste,
Então, por isso, por favor, não me deixe.
Dorme agora
(William Farago da Maia)
Dorme agora, pois,
o amor já foi embora
e algumas palavras
permanecerão não ditas
em expressões omitidas
de toda essa ilusão aparente,
a imagem no espelho
não se vê mais contente,
entre cigarros
há tentativas de reparos
que o coração fica dormente
é evidente que
o canto dos pássaros
já silencia o ambiente
o cigarro acaba,
o vento se cala,
não se ouve risadas
nem pelos pássaros
nem por este coração,
que batia alegremente.
Aprisionado no seu eco
(Rairy de Carvalho Gomes)
Na calmaria da natureza, um insuportável barulho
Do dia a dia, da exagerada, força do sol retirava
Aprisionava no Eu, os pensamentos mais egoístas
Os dias foram se apagando
As noites foram engolidas
Todos os raios de um astro se perderam na ponta de um palito
Como um buraco, uma fome voraz
Sua onipotência igualava a ele
Sua frieza é tamanha, seu obscuro não se compara.
Não se perdia e a tudo consumia
O dia, a noite, a morte, a vida.
Ouvindo gritos e sons de agonia
Ao se deparar com os sons
Sons que ele mesmo produzia
Ao surgir todas as coisas, ouvia mais gritos e sons de agonia
Sentia-se inútil
Tal como uma pedra,
Nada sente!
Então de sua prisão ele se libertou
Seu Eu, seu Eco, ele despertou.
Pensou estar só, pesadelo vil…
Percebera que até mesmo o ruído
É uma música que se propaga pelo o infinito.
Amárfora
(Amanda Rodrigues da Silva)
Amanhece
E você desperta
A beleza do sol clareia o quarto,
Como a cor castanha dos teus olhos
Num começo de tarde
Incandescente,
Como fogo na areia
Derrete,
Como mel retirado da colmeia.
Não é doce
Teus olhos são silícios de mel
És duro como vidro
Mas vidro derretido
Num tom marrom amarelado
Teus lábios.
Desenho preciso, feito à mão
Tatuados como uma aquarela
Cor de mel?
Cor de cereja
Sabor de suspiro
Suspiros dos teus beijos
Retirados de mim,
Como o luar de sexta à noite,
Como um pôr do sol
Sem fim.
Teu abraço.
Parece a chama
Cheio de fulgor
Tua presença.
Parece a brisa do mar
Percorre toda minha mente
Estaciona no meu corpo
Me enche de rubor
Escrevo-te enquanto dormes
Sono leve como uma âncora
Mal me mexo,
Me deleito.
Teu corpo.
Exposto em um museu fechado
Em um quarto cheio de arte
Você é minha obra prima
Eu te observo
Te absorvo
Tua mente me fascina
Uma loucura sã
Sagazmente abstrata
Maliciosa como a inocência das ruas
Serena como um céu trovejante
Defeito?
Charmoso como a arrogância das madrugadas sombrias.
Curioso como criança desinformada.
Tens a frieza de um carro fechado
Estacionado ao sol,
Como a temperatura dos lençóis de tua cama.
Deitada ao teu lado
Procuro palavras,
Descrevo emoções
E em meio a razões
Encontro você.
*Poemas de estudantes do Curso de Letras da Universdiade Católica de Brasília